quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA 2009!!

21/11/2009
DIA DA CONSCIÊNCIA NEGRA
Médico diz que desigualdade econômica e cultural influencia na saúde do negro

Momento da palestra no auditório da Fafipa Foto: Ediglei Feitosa
Os indicadores mostram que há desigualdade entre negros e brancos quando o assunto é saúde. Isso acontece como consequência da desigualdade econômica, social e cultural, existente no país. O raciocínio é do médico Vitor Jorge Woytuski Brasil, que esteve em Paranavaí ontem para proferir palestra dentro da Semana Negritude, que se encerra hoje e marca as comemorações do Dia da Consciência Negra (20 de novembro). Especialista em saúde coletiva, o médico utiliza números para reforçar a sua análise. Mostra estudo de 1977, onde consta que a mortalidade entre os brancos era de 76 para cada mil nascidos. Entre os negros essa taxa subia para 96 mortos em cada mil nascidos. A média era de 87 mortes para cada mil nascimentos.

Mesmo estudo, feito em 1993, revela uma grande redução, com a média ficando em 43. O grande problema, diz Brasil, é que a taxa de mortalidade entre os brancos caiu para 37, enquanto a dos negros teve redução menor, fechando em 62 óbitos para cada mil nascimentos.

Interpretando esses índices, o médico, que também é mestre em ciências, diz que a causa é o menor poder aquisitivo, que leva a menos acesso à cultura e aos recursos materiais, bem como itens essenciais como saneamento básico, habitação e outros.

Mesmo sem números em mãos, Vitor Brasil diz que a situação da mortalidade infantil se repete entre as mães. A taxa de mortalidade entre as mães é superior na comunidade negra em relação aos brancos.

Ele fala que as mulheres negras também são minoria quando o tema é emancipação feminina. Nos últimos 50 anos, opina, houve significativos avanços em relação ao direito da mulher. Mas, quando se estuda a população negra, mais uma vez fica evidente que o índice de conquistas é menor.

A origem das desigualdades nos remete ao descobrimento e início da escravidão no país. O palestrante, que também é professor universitário em Curitiba, lembra que a abolição se deu a apenas 121 anos e ainda assim na forma de uma liberdade incompleta. Os negros ficaram sem acesso aos meios de produção e da economia.

Ponto de vista da biologia - Além dos problemas gerados pelas diferenças econômicas, a comunidade negra vive o problema das doenças falciformes. São doenças do sangue e que afeta de 6 a 8% da população negra. A mais conhecida é a anemia falciforme que, nos casos mais graves, pode encurtar significativamente a vida da pessoa.

Por isso, Vitor Brasil defende que o Sistema Único de Saúde esteja atento para detectar a doença. A investigação é simples, mas precisa que os profissionais conheçam e assim possam diagnosticar, uma vez que a anemia falciforme não consta dos protocolos usuais de investigação da saúde.

O palestrante usa a própria experiência para justificar a preocupação, pois, durante todo o curso de medicina teve apenas duas aulas sobre o tema.

Aconselhando as pessoas que têm descendência africana, o palestrante entende que antes de casar, é preciso fazer uma investigação. Se o homem e a mulher apresentarem uma das formas da doença, os filhos terão uma forma mais grave.

O presidente da Associação Negritude de Promoção da Igualdade Racial (ANPIR), o professor e advogado Celso José dos Santos disse que os casos detectados em Paranavaí são encaminhados para tratamento em Curitiba. Ele não soube dizer a quantidade, mas afirmou conhecer uma pessoa com anemia falciforme.

Finalizando, o médico Vitor Brasil opinou sobre o que considera ser negro. Para ele, é uma questão de identidade, de afirmação. Os desafios são muitos, reitera, pois, “a sociedade nos embranquece”, ou seja, tem o seu padrão no ser branco. Brasil cursou medicina numa faculdade onde foi exceção. Dentre os cerca de 500 profissionais formados até o começo dos anos 2000, foi apenas o segundo negro a receber o diploma.

Nenhum comentário:

Postar um comentário